...O direito de abandonar um livro...
O último sábado foi uma saga pouco divertida para mim. Havia me programado para passar um dia muito prazeroso em busca de livros e apreciando música que eu amo, mas as leis da física e de Murphy são constantes. Sai atrasado de casa e tive de correr o resto do dia, ao chegar em um sebo na Liberdade não encontrei a edição especifica do livro O Rei do Inverno ( CORNWELL , Bernard. Editora Record ) que eu procurava e que constava na estante virtual.
Corri também para a biblioteca com a intenção de retirar dois livros: O Colecionador ( FOWLES, John. Editora Abril Cultura ) e A Revolução dos Bichos (ORWELL, George. Editora Cia das Letras ), os dois constavam como "disponíveis" no sistema da biblioteca, mas como sempre acontece lá, não consegui encontrar um deles; no caso "A revolução dos bichos". Depois de procurar um pouco nas prateleiras em volta e nos carrinhos de devolução desisti da busca por que estava atrasado para um compromisso com uma amiga. Mas nesse momento meus olho bateram no livro Os resíduos do dia ( ISHIGURO, Kazuo. Editora Cia das Letras ), fui logo atraído pela belíssima capa e me lembrei que ele estava na minha lista de "vou ler" no skoob. Levei esse e comecei a leitura no mesmo dia.
Premiado com o Booker Prize de 1989, considerado um clássico da literatura mundial, aclamado nas resenhas de Brasileiros e bloguers de vários outros países como uma história sensível, profunda e emocionante. Um currículo e tanto para qualquer livro - fico até sem graça de dizer que não gostei. Nem se quer um pouco.
O livro segue as relembranças de um mordomo inglês chamado Stevens em uma viagem pelos campos ingleses para reencontrar uma antiga amiga e paixão com quem trabalhou na mesma casa que Stevens continua a prestar serviços ( que na época pertencia a um senhor diferente ). Essa lembranças giram em torno de ocasiões durante o período entre as grandes guerras mundiais, das reuniões na mansão de Lord Darlington e o envolvimento desse patrão com a acensão nazista. Tudo isso misturado a vida pessoal de Stevens e com seus pensamentos sobre os deveres de um bom mordomo.
Esse texto não serve como resenha ou impressão de leitura já que não passei da metade do livro antes de abandona-lo, o primeiro a ser colocado nessa aba do meu skoob. Me lembrei muito durante a leitura de uma coisa que a Juliana Gervason comenta de vez em quando, que ela se dá o direito de abandonar um livro quando não gosta da leitura. Eu entendo a sensação de todos os vlogueiros no youtube quando dizem que não gostam de abandonar uma leitura. Mas tenho de me juntar a Juliana nesse caso!
Chegou a um ponto em que eu me forcei a ler até exatamente metade do livro esperando alguma coisa acontecer que agarraria minha atenção e despertaria uma vontade de continuar a leitura, a cada página era a mesma coisa: "Vou tentar ler até página X para dar uma chance ao livro". Então o que deveria ser um grande prazer se tornou uma tarefa, uma tarefa muito irritante. Não via a hora de terminar logo com o livro.
O personagem principal é extremamente envolto em sua competência como mordomo e analisa absolutamente tudo que acontece com esses olhos, tudo que ele faz e pensa é colocado em dúvida, tudo de uma maneira muito inglesa, muito cavalheiresca. Se tornou muito enfadonho para mim ler e reler esses pontos de vista profissionais/submissos do Stevens. Achei a narrativa toda muito demorada, afetada, sem sair do lugar ( só na por volta da página 80 é que realmente acontece alguma coisa mais profundo na história ).
Agora, esse não deveria ser o ponto principal, durante a leitura esse modo de contar a história deveria servir apenas como a base para fazer o discurso sobre o afeto entre os personagens e os conflitos em volta da acensão do Nazismo e a vida dos lords ingleses. Mas acontece que para mim, essa escolha da escrita tomou conta de tudo, ao ponto de parecer que eu estava lendo um livro exatamente sobre as afetações de ser um mordomo. Não me conectei com o livro ao ponto básico de conseguir enxergar através da superfície dele.
Claro que várias pessoas devem se ligar ao livro de maneira diferente, e não quero desencorajar ninguém de começar esse livro caso queiram, afinal ele é aclamado por uma razão.
Expor esse tipo de opinião sobre clássicos é intimidante, mas sinto de verdade ( e descobri esse sentimento com esse experiência ) que não deve haver vergonha nenhuma de parar com uma leitura que não gera mais prazer, não vou absorver nada dela dessa maneira.
Opiniões? Revoltas ?
Um abraço a todos!
Ah, eu também deixo o livro de lado, se não estiver me envolvendo, sem dó nenhuma... Nenhum livro é unanimidade, quero muito ler esse, tenho-o aqui, infelizmente com a capa do filme, rs, mas vou tentar, e se eu não gostar, troco, sem dor alguma no coração, sem culpa alguma, rs...
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