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~Contem spoilers~
Eu pensei por onde começar uma discussão mais a fundo do livro, e já que a história é feita toda em volta das misérias da vida de cada personagem resolvi começar por eles. Alguns me chamaram mais a atenção do que outros naturalmente.
Eu continuo adorando a maneira que a Rowlling descreve os personagens, uma descrição das roupas e você já imagina a maneira de se vestir no dia a dia, ou então os costumes de cada um, e esse foi um ponto que me fisgou desde o começo.
Minha primeira marcação no livro por falar nisso:
" Ela continuou navegando depois de sair do fórum de mensagens do site do conselho e chegou ao seu site médico favorito, onde digitou cuidadosamente as palavras "cérebro" e "morte" na caixa de pesquisa. As sugestões eram intermináveis. Shirley percorreu as possibilidades, imaginando a qual das condições fatais, algumas impronunciáveis, ela devia sua atual felicidade." (Casual Vacancy - Pág 18 - Tradução Livre)
Esse pequeno paragrafo já foi o suficiente, eu consegui ter uma imagem muito vivida do sorriso contorcido da personagem e o olhar de superioridade que nunca sai de seu rosto. Não achei que a Shirley ganhou todo o espaço que merecia no romance, uma pessoa tão pérfida merecia mais do que apenas o papel secundário de esposa ciumenta e submissa. Só no final ela realmente brilha por pouco tempo, e eu não consigo expressa aqui o quanto eu realmente queria que ela conseguisse matar o marido! Uma pena o destino ter intervindo, rs.
Outros personagens que se tornaram vivos na minha imaginação foram o Fats / Bola ( Stuart Wall ), não sei por que imagino ele com cabelo muito curto e óculos de armação grossa, não lembro desse detalhe no livro. Não simpatizei muito com ele, passei o livro todo querendo dar uns tapas no moleque! Toda essa história de buscar autenticidade me pareceu só desculpa, só mais uma coisa de adolescente querendo ser legal, se achando muito esperto.
Quando a Tessa conta a verdade sobre a mãe biológica dele fiquei imaginando se ele não seria meio irmão da Krystal, por causa do comentário da relação incestuosa e por que a Terri sofreu abusos do pai e teve de abrir mão de um filho. Mas comentando isso em um fórum americano lembrei de que as idades não bateriam, que o filho que retiraram da Terri era mais velho do que sua outra filha ( que a Krystal queria tanto conhecer ). Colocaram , e eu concordei, que o comentário sobre incesto foi apenas para causar um baque no Fats, algo como "Quer realidade da vida? Toma, engole!".
Depois me envolvi muito com a história da Samantha, geralmente não gosto de infelicidade matrimonial, mas as formas como ela encontrava de atacar o Miles e a sogra eram muito boas. Então eu acompanhei ela com muita curiosidade de como o fetiche pelo membro da Boy Band iria terminar. Fiquei um pouco feliz de ver nela a única personagem que sofreu uma mudança com a morte das crianças, de querer ser um conselheira para entender de verdade a situação da clínica.
Krystal Weedon....sem dúvidas uma das queridinhas de todo mundo, e tenho a impressão de que da autora também. Eu geralmente sou da opinião ( um pouco contrária a do livro ) de que as pessoas fazem as próprias escolhas, de que muita gente tem uma vida miserável mas nem todos tem as mesmas atitudes. Agora com a Krystal eu simpatizei, é realmente o poder da narrativa da autora , não tem como negar que ela e mãe passaram por muita coisa.
Ela me fez lembrar de uma personagem do programa de comédia de TV Little Britain chamada Vicky Pollard, apesar de ser uma comédia escrachada a personagem foi baseada nas garotas que são como a Krystal, e que fala constantemente e muito rápido por que está sempre enrascada.
Tive um problema com o personagem do Gavin, tirando o fato de adicionar um homem egoísta e que é o tipo que estraga a vida das mulheres com quem se envolve, não vi muita razão para o personagem, ele não se envolve com quase nada, só com a parte do seguro e com a atração pela viúva, e os acontecimentos envolvendo ele acabam do nada, não senti que ele era muito necessário.
E para mim não existe outra Parminder Jawanda que não a atriz Parminder Nagra, só que com o cabelo amarrado em coque e a cara mais fechada.
Nessas descrições fica obvio esse lado social da Rowlling, essa maneira de caracterizar os antagonista ao ponto de serem fisicamente repulsivos e trassar um linha clara entre os corretos e os errados, deixando alguns deles caricatos demais pra mim.
"O lado social da coisa. Muitas atividades para as esposas. Trabalhos na casa do Sweetlove. Ela vai se ambientar." Ele bebeu mais um gole de cerveja e coçou a barriga novamente." (Casual Vacancy - pg 184 - tradução Livre)
Só nessas poucas linhas Howard já é chovinista, machista e um porco nojento, e essa ideia é reforçada durante todo o livro.
Depois temos os Wall.
"Tessa não a examinou de cima a baixo quando ela entrou , nenhuma avaliação de olhos apertados de suas imperfeições ou do seu senso de moda. Seu marido, apesar do nervosismo, pareceu decente e dedicado a sua determinação em impedir o abandono do Fields." (Pág 311 - Tradução Livre)
Ou seja pro-fields = Gente certa. Contra-fields = gente caricata, ruim.
Há outros pontos do livro que eu gostaria de saber a opinião de outras pessoas. Quanto a esse pensamento da Shirley por exemplo:
"Ela pensava que se ela e Howard fossem ao templo, ou mesquita, ou onde fosse que os Jawandas se congregavam para adoração, eles iriam sem dúvida precisar cobrir a cabeça, tirar os sapatos e quem sabe o que mais, caso contrário haveriam protestos." ( Pág 156 - Tradução Livre )
Isso por causa da escolha da Parminder de usar um sari para o enterro. Apesar de ter sido um ponto levantado a partir de uma observação erronia e por uma personagem monstruosa, tem um embasamento correto nesse pensamento. Na verdade, em qualquer tipo de templo, existe essa obrigação social, não podemos nos despedir de um amigo ou familiar ou partilhar da alegria de uma união sem passar por esse tipo de situação. Gostei de ter aparecido, mesmo que brevemente, essa idéia no livro.
Também esse ponto:
"De acordo com Nietzsche" disse uma voz nova e aguda, fazendo-os se assustar "a filosofia é a biografia do filosofo." ( Pág 227 Tradução Livre )
Vocês concordam com isso? Faz sentido, mas com tanta filosofia hipócrita e mal pensada que as pessoas espalham por ai. O que acham ?
E foi só impressão minha ou livro foi escrito já com a intenção de uma adaptação? ( Que já foi assinada por falar nisso ). Como quando ela utilizava a música "Umbrella" em algumas cenas, ou quando no funeral da Krystal, Sukhvinder se lembrou do dia em que o time delas ganhou do time da escola particular, essa cena passou igual a um filme na minha cabeça, e se encaixa como uma luva em uma adaptação.
Pra finalizar tenho de falar do final. Vi uma entrevista com Rowlling afirmando que "Se você chorou ao final do livro eu não vou te dizer: Muito bem! Mas eu não tenho nada a dizer para alguém que não chorou."
Eu não cheguei a chorrar, mas me impactou e eu marquei várias frases do fim, será que serve? xD
Eu gostei de como ela usou a morte do Robbie no rio para simbolizar purificação, essa redenção da cidade, apesar da mudança minima no comportamento. É uma cena muito forte, tinha de acontecer, e também ilustra uma coisa em que eu penso muito de vez em quando.
Apesar dessa minha posição de que cada um é dono das próprias ações, e pelo meu desgosto com as "esmolas", não deixo de ver que existem situações em que um outro ser humano simplesmente precisa de ajuda, de uma oportunidade, um apoio. As cenas em que uma criancinha que não deveria estar sozinha é notada por diversas pessoas que resolvem ignora-la foi o grande ponto do livro para mim. Mais do que a questão da ajuda social. Foi uma maneira de ilustrar um conceito muito maior.
Existe uma linha muito bem marcada entre exercer suas filosofias e seus ideias e o habito de desumanizar as outras pessoas.
Vou terminar então com algumas passagens a mais que me marcaram durante a leitura.
"Cada hora que passava aumentava a sua dor, por que a carregava mais longe de seu marido e por que era uma pequena prévia da eternidade que teria de passar sem ele" (Pág 63)
"...Krystal Weedon havia alcançado sua única ambição. Ela juntou-se ao seu irmão onde ninguém poderia separa-los." (Pág 481)
"Assim como Robbie saiu do rio purificado e lamentado por Pagford, Sukhvinder Jawanda, que arriscou a própria vida para tentar salvar a do garoto, emergiu como heroína" (Pág 496)
"Sua família ajudava Terri Weedon a realizar o caminho de volta pelo tapete azul royal , e a congregação desviou o seu olhar." (Pág 503 Traduções Livres)
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Eu amei o livro, e quase todos os personagens. Não que eu tenha morrido de amores por Simon, por exemplo, mas amei como foram construídos. Achei a Mary a mais chata e desnecessária hahaha por incrível que pareça!
ResponderExcluirPobre Mary, ela estava lá mesmo só para ser a viúva xD
ExcluirEu amei o livro, realmente é muito bom, mas ainda não consigo me conformar com a morte de Krystal e seu irmão. Confesso que até chorei e depois quando pensava me emocionava de novo, era como se realmente fossem pessoas, me apeguei muito a eles...
ResponderExcluirAmei o livro todo! Sinceramente, acho que as pessoas que desistiram dele é por que esperavam encontrar um livro com pegada de Harry Potter. Rowling mostrou que é uma escritora completa.
ResponderExcluirKristal :(
Odeie cada minuto Simon Price ;@
Livro Perfeito