A história:
No novo romance da
autora vamos acompanhar a vida cotidiana e os acontecimentos na
cidadezinha de Pagford após a morte de Barry Fairbrother. Barry
fazia parte do conselho da cidade e sua morte deixa um vaga nesse
conselho, começa então na cidade um duelo (nem sempre silencioso)
para preencher a vaga.
A autora utiliza a
morte do personagem como o estopim para discussão do tema do livro.
O conselho paroquial, a cidade e seus habitantes estão divididos em
dois polos, os que gostariam de ver a porção da cidade vizinha de
Yarville, que é chamada de “Filds”, ser entregue novamente a
jurisdição de Yarville; e os que defendem que Pagford deve
continuar responsável por aquela extensão e seus custos. Na mesma
disputa está em pauta o destino da clinica para reabilitação de
drogados ( que aluga um prédio administrado pelo conselho de
Pagford) frequentativa principalmente pela população dos Fileds.
O “Fields” é um
área subsidia pelo governo, com casas de construção popular, onde
se concentram todos os moradores pobres da região, e podemos
comparar a situação do local com as favelas Brasileiras, apesar da
infraestrutura diferente o desenvolvimento social é o mesmo, com
proliferação do tráfico de drogas e vandalismo.
Para as famílias
conservadoras da cidade próspera de Pagford não existe razão para
sustentar vagabundos e drogados que “nunca trabalharam um dia de
suas vidas”, mas para habitantes como Barry Fairbrother, que
cresceu no Fields, a a ministração de Pagford é essencial para
mudar a vida de habitantes que, como ele, só tem a chance de crescer
na vida por causa das vantagens oferecidas por Pagford.
Todo o enredo do livro
segue as vidas de diversos núcleos familiares interligados, são
MUITOS personagens e o começo do livro é dedicado a apresentar e
descrever cada um deles ( o começo da leitura é um pouco arrastado
por causa disso ) e esse é um ponto da escrita muito característico
da escritora, a maneira como ela consegue dar vida a cada um dos
personagens com sua descrição de pequenos fatos e da maneira como
eles se vestem, você reconhece cada um deles facilmente.
“...Ela era uma
mulher baixa e robusta com a cara larga e singela, que cortava o
próprio cabelo cada dia mais grisalho – a franja por vezes um
pouco torta – usava roupas de tecidos caseiros, de variedade
artesanal e gostava de adornos feitos de sementes e madeira. A saia
de hoje pode ter sido feita de serapilheira, que ela combinou com um
grosso cardigã verde ervilha. Tessa quase nunca se olhava em
espelhos longos, e boicotava lojas onde isso era inevitável”
[ Pág 41 - Tradução Livre]
Eu senti em todos os
pontos da história e que fica muito claro a posição politica da
Rowlling, e isso é claro nos personagens que são caricatos, apesar
de todos lutarem com os próprios dramas e nenhum ser considerado
santo, os “vilões” da história tem atitudes e características
físicas que me fizeram sentir um desprezo grande por eles.
Mesmo os habitantes que
lutam pela causa “justa” não são perfeitos e tem suas razões
particulares, mas a construção deles me levou a sentir pena ou
gostar deles, a ver a posição deles mais de maneira mais favorável.
Os adolescente da trama
são definitivamente os mais cativantes, os que mudam mais, eles sim
eu pude entender mais claramente, ou perdoar em certos pontos.
Depois do primeiro
terço do livro é que a história engrena de verdade e eu senti
vontade de continuar acompanhando o que acontecia em cada uma das
casas, e cada personagem diferente que representa um problema social
diferente, que serve para desmitificar o convívio aparentemente
perfeito e superior da cidade de classe media e alta, para aproximar
essas pessoas das menos sortudas que vivem no Fields.
Chega a um ponto no
livro que eu marquei quando eu senti que literalmente todos os
personagens estavam escolhendo fazer a própria vida miserável.
Deixou um gosto comigo de desespero mesmo.
São muitos temas
pesados tratados de forma direta e alguns vezes com muitos palavrões,
o que para muitas pessoas foi forçado, mas eu não tive esse
sensação, pra mim ajudou a deixar os personagens mais reais.
É muita coisa
acontecendo no livro, muita informação e muitos personagens,
algumas você se perde um pouco nos detalhes se perde um pouco com a
mudança constante no ponto de vista de personagem para personagem,
mas nada que desestimule a leitura.
Eu recomendo o livro
que carrega a mensagem da autora de maneira forte e bruta, com todas
as qualidades na narrativa que me fizeram gostar da Rowlling na saga
de Harry Potter. E por falar nessa série, acho que vale comentar que
os dois livros tem muito a ver sim. Os dois são histórias boas que
a autora conta para transmitir um mensagem social ao leitor, mas no
caso de Harry Potter essa mensagem vem junto de uma dose de magia
para aliviar a situação, em “Morte Súbita” essa mensagem vem
na forma de um soco no estômago.
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